segunda-feira, 22 de março de 2010

NÓS E AS ESTRELAS...


'O menino me perguntou, "então, por que as estrelas piscam"?  Olhei para aquele pequeno, minha seiva em seu sorriso meio desdentado, e também sorri. - "Não sei" foi o que disse.
Ele franziu a testa em pensamentos.

(...)

Ora, respondo enquanto dorme, a estrela pisca porque tem medo. Está trêmula desse jeito. A estrela é uma covarde e treme, louca de pavores naquele canto escuro do universo. Mas nem sempre.
Às vezes, não são as estrelas que tremem: são os nossos olhos quando se enchem de choro e procuram as estrelas para pedir que a felicidade não termine - quando se está feliz - ou que a tristeza vá embora, quando ela nos consome. Nossos olhos também piscam desse jeito e por medo.
Perguntas seriamente, menino, por que a estrela treme. Terá ela os seus motivos. Como posso imaginar por que uma estrela pisca? Não tenho essa condição, criança. Poderia querer te assegurar que é pela distância da terra, que é pela luz que possui, que é pela escuridão do infinito, que é pelo gosto que a estrela tem.
Que te posso dizer meu pequeno? Me desafias. E eu não sei. Quem sabe ela treme com os meus tremores, quem sabe cintila com a minha energia, quem sabe se agita com os meus pulsares?
Talvez um dia possas me dar a tua sabedoria de ter conseguido descobrir por que as estrelas tremem. Porque também um dia fiz idêntica pergunta: "Por que as estrelas piscam?" E já não me lembro do que disseram porque o que foi dito não era relevante. Importa, isso sim, que se descubra o porquê dentro da gente mesmo. Saberás, então, adormecido menino, por que as estrelas tremem.
As minhas, aprendi, sempre pulsam mais intensamente quando encaradas pelos meus tremores.
Eunice Jacques, Piscar de Estrelas, in "Para Bem-Te-Ver"

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